Desde a adolescência, a psicologia, especialmente a psicanálise, despertou minha curiosidade. Durante a graduação, tive a oportunidade de participar de duas iniciações científicas, ambas dedicadas ao estudo da maternidade. Esses projetos exigiram que eu mergulhasse profundamente no entendimento do feminino sob a perspectiva psicanalítica. Desde então, venho me dedicando ao estudo do que significa ser mulher em nossa sociedade, explorando as complexidades e singularidades dessa experiência.
Ser mulher envolve uma série de questões específicas relacionadas ao gênero. No Brasil, que lidera o ranking de casos de depressão e ansiedade na América Latina, as mulheres ocupam a maioria nesses índices, levantando importantes questionamentos sobre os fatores por trás desses dados. Em minhas pesquisas e estudos, constatei que muitas mulheres enfrentam uma sobrecarga decorrente do trabalho, maternidade, relacionamentos, imposições de padrões de beleza e a exaustiva jornada dupla.
Nesse sentido, defendo uma psicanálise que não se limite à introspecção individual, mas que também leve em conta o contexto social, histórico e cultural no qual está inserida. A célebre frase de Freud, “Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?”, nos provoca a refletir sobre as responsabilidades que cada indivíduo carrega em relação às suas próprias experiências. Contudo, essa reflexão não pode se desvincular das dinâmicas mais amplas de poder e opressão que atravessam nossas vidas. Assim, é imprescindível que questões como gênero, raça e classe sejam abordadas de forma consciente e crítica na prática psicanalítica. Isso, no entanto, não deve ofuscar a importância de respeitar as singularidades e a subjetividade única de cada pessoa que busca a terapia, reconhecendo suas particularidades e histórias.